Quando se fala em filmes de terror que ultrapassam o próprio gênero e viram marcos culturais, O Exorcista é o nome que reaparece como um eco — insistente, pesado e indesviável.
Lançado em 1973, dirigido por William Friedkin, o filme não apenas assustou plateias: ele abalou estruturas.
Enjoos no cinema, pessoas desmaiando, debates religiosos, manchetes em jornais, padres convocados para entrevistas.
O Exorcista não era apenas um filme. Era um fenômeno.
A pergunta que permanece é:
por que ele ainda funciona, mesmo décadas depois?
Ao contrário de muitos filmes de terror modernos, O Exorcista não é sobre sustos rápidos ou efeitos exagerados.
É um filme sobre uma mãe que não sabe mais como salvar sua filha.
Chris (a mãe), é racional, independente, moderna.
Ela tenta psiquiatras, neurologistas, especialistas.
Ela tenta tudo que a ciência oferece.
Só quando todo o natural se esgota, ela encara o sobrenatural.
E é nesse ponto que o filme se torna poderoso:
O terror não está no demônio.
O terror está no limite da capacidade humana diante do sofrimento.
Regan, interpretada por Linda Blair, não é apenas uma vítima.
Ela é o símbolo daquilo que o mal tenta corromper: a pureza, o afeto, a infância.
A transformação dela é a parte mais dolorosa do filme.
Não porque ela assusta — mas porque ela nos faz sentir perda.
A perda de quem ela era.
Essa sensação é o verdadeiro horror.
Ao lado de Regan, temos o Padre Damien Karras, o personagem mais complexo da trama.
Ele é padre, mas também é médico.
Ele acredita, mas não consegue acreditar o suficiente.
Ele carrega culpa, medo, questionamento.
Ele é o reflexo de quem assiste:
“E se eu estivesse no lugar dele, eu teria fé?”
O arco dele é a espinha dorsal moral do filme.
Não é um herói perfeito.
É um homem falho sendo chamado para algo impossível.
O filme não tem medo de ser desconfortável.
A entidade não aparece com chamas, asas ou monólogos épicos.
Ela humilha.
Provoca.
Ridiculariza.
Destrói a dignidade e depois o corpo.
Essa opção narrativa é brilhante, porque faz o mal parecer:
- Presente
- Inteligente
- Pessoal
Não um monstro.
Mas algo que mexe onde dói.
Porque ele entende algo que muito terror esquece:
O medo mais profundo não está no escuro, mas naquilo que nos escapa.
Quando não há mais remédio, quando ciência não resolve, quando amor não cura, quando a lógica falha, o que resta?
O filme confronta a fragilidade humana diante do inexplicável.
E isso não envelhece.
O Exorcista não é apenas um clássico.
É um filme que marcou uma mudança na forma como o cinema encara o mal.
Ele não quer apenas assustar:
Ele quer mexer com sua certeza do que existe e do que não existe.
