Alguns filmes não falam apenas com os olhos. Falam com o peito.
Viva – A Vida é uma Festa é desse tipo.
A animação da Pixar parte de um universo colorido, musical e cheio de humor, mas rapidamente se revela como uma reflexão sobre identidade, legado e a forma como continuamos vivendo na memória daqueles que amamos.
Não é um filme “sobre a morte”.
É um filme sobre o que permanece.
O enredo se apoia no Día de los Muertos, tradição mexicana em que as famílias celebram e recordam seus mortos com música, comida, fotos e histórias.
Ao invés de tratar o tema da morte com medo ou silêncio, o filme apresenta uma visão afetuosa e comunitária:
lembrar é continuar amando.
A Pixar fez um trabalho de respeito cultural impressionante:
- Cores vibrantes
- Elementos simbólicos reais (a ponte de pétalas, a oferenda, os retratos)
- Valorização da música como linguagem da memória
Nada é caricato. Tudo é afetivo.
A história acompanha Miguel, um garoto que ama música, mas vive em uma família onde música é proibida.
A proibição não é “birra” ou moralismo — ela surgiu de uma dor profunda, um abandono.
A jornada de Miguel é uma metáfora muito humana:
Quem sou eu quando nenhum caminho parece me aceitar?
O filme entende que todo sonho tem um preço, e às vezes o preço é curar feridas que vieram antes de nós.
Quando Miguel atravessa para a Terra dos Mortos, o filme encontra seu momento mais poderoso:
os mortos não são fantasmas, nem assombrações.
Eles têm personalidade, humor, saudade, e acima de tudo: história.
Eles existem enquanto são lembrados.
Quando alguém é esquecido, ele desaparece. É a “segunda morte”.
Essa é uma das mensagens mais fortes do filme:
O esquecimento é o fim do vínculo. A memória é o que nos mantém presentes.
O filme usa o humor como alívio, mas guarda um impacto emocional calculado:
Ernesto de la Cruz não é o herói que Miguel imaginava.
Ele é o símbolo de um sucesso vazio, conquistado às custas do outro.
Já Héctor, o homem simples, o artista não reconhecido, é o verdadeiro coração da história.
Às vezes, o herói da memória não é o famoso.
É o avô, a mãe, o amigo, o amor que ficou ali no cotidiano.
A música “Lembre de Mim” não é sobre saudade romântica.
É um pedido: Não me deixa desaparecer.
Todo mundo tem alguém que:
- Gostaria de ter abraçado mais
- Não conseguiu agradecer
- Queria ter dito que amava
Viva – A Vida é uma Festa toca exatamente nesse ponto.
Ele nos lembra que o amor não acaba, mas a lembrança precisa ser cultivada.
- Raízes importam. Somos feitos do que veio antes.
- Sonhar é bonito, mas curar é necessário.
- Lembrar é um ato de amor.
O filme não oferece respostas sobre o que acontece “além”.
Ele oferece algo mais humano:
Enquanto houver memória, há vida.
Viva – A Vida é uma Festa é um filme que permanece após os créditos.
Ele não apenas emociona — ele toca o que temos de mais íntimo: a saudade.
É um filme sobre fazer as pazes com o passado, sem abandonar quem somos ou queremos ser.
