8 dez 2025, seg

Viva – A Vida é uma Festa (2017): Quando a Memória é o Laço

Alguns filmes não falam apenas com os olhos. Falam com o peito.
Viva – A Vida é uma Festa é desse tipo.

A animação da Pixar parte de um universo colorido, musical e cheio de humor, mas rapidamente se revela como uma reflexão sobre identidade, legado e a forma como continuamos vivendo na memória daqueles que amamos.

Não é um filme “sobre a morte”.
É um filme sobre o que permanece.


A Cultura Que Respira Dentro da História

O enredo se apoia no Día de los Muertos, tradição mexicana em que as famílias celebram e recordam seus mortos com música, comida, fotos e histórias.

Ao invés de tratar o tema da morte com medo ou silêncio, o filme apresenta uma visão afetuosa e comunitária:
lembrar é continuar amando.

A Pixar fez um trabalho de respeito cultural impressionante:

  • Cores vibrantes
  • Elementos simbólicos reais (a ponte de pétalas, a oferenda, os retratos)
  • Valorização da música como linguagem da memória

Nada é caricato. Tudo é afetivo.


Miguel e o Conflito Entre Sonho e Tradição

A história acompanha Miguel, um garoto que ama música, mas vive em uma família onde música é proibida.
A proibição não é “birra” ou moralismo — ela surgiu de uma dor profunda, um abandono.

A jornada de Miguel é uma metáfora muito humana:

Quem sou eu quando nenhum caminho parece me aceitar?

O filme entende que todo sonho tem um preço, e às vezes o preço é curar feridas que vieram antes de nós.


O Outro Lado: Um Mundo Que É Vivo

Quando Miguel atravessa para a Terra dos Mortos, o filme encontra seu momento mais poderoso:
os mortos não são fantasmas, nem assombrações.
Eles têm personalidade, humor, saudade, e acima de tudo: história.

Eles existem enquanto são lembrados.

Quando alguém é esquecido, ele desaparece. É a “segunda morte”.

Essa é uma das mensagens mais fortes do filme:

O esquecimento é o fim do vínculo. A memória é o que nos mantém presentes.


A Reviravolta Que Altera o Sentido da Obra

O filme usa o humor como alívio, mas guarda um impacto emocional calculado:

Ernesto de la Cruz não é o herói que Miguel imaginava.
Ele é o símbolo de um sucesso vazio, conquistado às custas do outro.

Héctor, o homem simples, o artista não reconhecido, é o verdadeiro coração da história.

Às vezes, o herói da memória não é o famoso.

É o avô, a mãe, o amigo, o amor que ficou ali no cotidiano.

A música “Lembre de Mim” não é sobre saudade romântica.
É um pedido: Não me deixa desaparecer.


Por Que Esse Filme Dói (Do Jeito Bom)

Todo mundo tem alguém que:

  • Gostaria de ter abraçado mais
  • Não conseguiu agradecer
  • Queria ter dito que amava

Viva – A Vida é uma Festa toca exatamente nesse ponto.

Ele nos lembra que o amor não acaba, mas a lembrança precisa ser cultivada.


O Que Aprendemos (Sem Virar Sermão)

  • Raízes importam. Somos feitos do que veio antes.
  • Sonhar é bonito, mas curar é necessário.
  • Lembrar é um ato de amor.

O filme não oferece respostas sobre o que acontece “além”.
Ele oferece algo mais humano:

Enquanto houver memória, há vida.


Veredito

Viva – A Vida é uma Festa é um filme que permanece após os créditos.
Ele não apenas emociona — ele toca o que temos de mais íntimo: a saudade.

É um filme sobre fazer as pazes com o passado, sem abandonar quem somos ou queremos ser.

Viva – A Vida é uma Festa (2017): Quando a Memória é o Laço

5,0 / 5

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